Sabes aquela sensação de borboletas no estômago? Imagina-as em queda livre num desfiladeiro, numa descida a pique numa encosta sobre um oceano profundo, tal Alice na toca em perseguição do Coelho Branco e tu, dos teus sonhos, ou de nada em concreto… vais simplesmente à procura de algo ou, em ultima instância, de ti.
O destino foi Génova, uma cidade também ela plantada à beira-mar. Terra de Colombo dizem uns – eterna disputa nas conversas entre portugueses, italianos e espanhóis. Na Via Dante parados a olhar para essa esquina que tem vestígios do que em tempos teria sido a sua casa, de braços cruzados e nariz torcido “hmm não sei se era Genovês”. Lascia perdere.
A essência de Génova e a essência do Erasmus são a mesma: a descoberta. Perdes-te nas pequenas ruelas e becos – os vicoli – e quando sentires que não sabes onde estás continuas! Viras à esquerda e encontras uma “alminha” trabalhada na fachada de uma casa antiga, viras à direita e encontras uma geladaria que parou no tempo e que parece que só tu a encontraste por acaso. No teu destino errante começas a descer – não tem nada que enganar, quando estiveres perdido desces e encontras o mar – e aí, de repente, por uma janela entreaberta sentes a energia de uma oração, ouves o agridoce de uma língua que não conheces mas que te transmite a sua força. As ruas estreitam e as janelas aproximam-se, a roupa estendida do vizinho ondula com a do prédio em frente, a luz é mais escassa mas as ruas ganham outro burburinho – chegas à zona do Porto. A viagem é completa se começares a cantarolar Fabrizio De André e a sua “Via del Campo”, transporta-te aos tempos de cidade que vivia em volta do porto, de partidas e regressos, de idas sem volta, de ténues esperanças e da adrenalina da viagem… como tu.
Perdida entre mar e montanha, longe dos roteiros turísticos que conduzem a outras zonas, todos lá vão parar. Génova é uma cidade multicultural por excelência e ouvir várias línguas pelas ruas é algo que te faz sentir no sítio certo. Assim começam os conhecimentos de Erasmus: numa esquina em que ouves um português a refilar, um qualquer grupo desesperado a olhar para anúncios de casas, os espanhóis em grupo a calcular os eventos sociais do dia, um alemão a olhar para o relógio à espera de um provável latino que nunca mais chega… e juntas-te a esse grupo de pessoas que ali vão parar, na sua maioria por pura casualidade, como tu.
Chega a um ponto em que as tuas borboletas decidem planar, num voo constante sobre esse mar sem ondas do mediterrâneo, e cessa a tua súbita urgência de descer, descer para chegar a porto seguro porque precisas – precisas – de saber onde estás, porque finalmente aceitas que esse labirinto de ruas e ruelas é o que te compõe e tu já sabes guiar-te por ele. Aprendes que os caminhos que a vida te vai propondo têm de ser percorridos por ti, sem guias e sem dependência de nada nem de ninguém, e aí, nesse momento, as tuas ruas enchem-se dos amigos que ali fizeste para a vida, dos skypes com hora marcada, das mensagens de desabafo noutro fuso horário e nas frases chave que conseguem fazer-te brilhar em qualquer idioma.
O Erasmus é uma oportunidade de aprendizagem e de crescimento sem comparação. A ti que estiveste nesta situação, digo-te que à parte de what happens in Erasmus stays in Erasmus sabes bem que é este é um dos mais intensos e melhores anos da tua vida. Que tens 20’s e te parece tudo absoluto, que te parece tudo tão definitivo…! Mas que agora estás preparado para novos capítulos, alguns certamente mais marcantes mas todos únicos e incomparáveis. A ti que tens curiosidade e “e se’s” e “mas” a saltar na tua cabeça, afasta-os para esse precipício para o qual caem as tuas borboletas, deixa-os ir que eles não tem asas, mas tu sim.