Chaves, carteira, o almoço, uma festinha ao cão – já sabes que nos vemos logo – apagar a luz da entrada, fechar a porta à chave. Desço os primeiros degraus, bolas falta-me o telemóvel, repete-se tudo.
Chegada ao metro aproveito para saltitar nas escadas rolantes e ganhar mais uns segundos antes que tenha de correr para a carruagem. Normalmente chego e está a passar, entre os vidros que aceleram vejo o teu rosto do outro lado da linha.
Às vezes desapareces nesse cruzar de transparências. Quando fica o silêncio fico só. Nunca sei se vou poder ver o teu sorriso tímido que me cumprimenta com o olhar, ou se perco a ilusão de ti nesses segundos infinitos.
Tentei perceber o horário em que te via mas, às vezes, como hoje, volto para trás e perco esses segundos. Imagino que também te aconteça.
Hoje vou atrasada, chego e está o teu metro a passar, vejo as últimas carruagens que se afastam, sem tempo para espreitar através delas para ti. O ruído ensurdecedor da carruagem que já vai lançada dá lugar ao vazio. Olho para o chão a pensar que hoje já perdi a oportunidade de ver.
Levanto os olhos e sinto o silêncio cheio, vejo-te, de pé, à minha frente do outro lado da linha. Encolhes os ombros como que a justificar-te. Sorris-me com os olhos antes que chegue aquele barulho que ouvimos ao longe, e as transparências voltem a levar-nos um do outro.