Tic tac tic tac
Tic-tic-tic-tic-tic
Dum, dum, dum, dum.
Esta contagem do tempo que não pára. Ouves os minutos que giram no teu pulso, os ponteiros da sala que não param, o vizinho que soa a cada hora. Sentes-te como o crocodilo do Peter Pan que onde quer que vá arrasta o peso do tempo consigo.
Sabes que chegou a época dos balanços, das retrospectivas, do teu ano que passa em revista no Facebook e do iPhone que decide mostrar-te como foram os últimos meses.
Aumenta o barulho do relógio na tua barriga.
Pensas naqueles dias felizes de verão, na sensação do sal do oceano nos lábios, enterrar os pés mais fundo na areia para absorver o calor que foge ao fim do dia. Lembraste de ter os cabelos as esvoaçar no Cabo Espichel, de pensares naquela linha do horizonte e na sensação de querer partir.
Vem-te à memória o peso no peito, a sensação de sufoco e de gritar debaixo de água, as lágrimas sufocadas na tua almofada, o bater de portas que fazem a casa tremer.
Aumenta o barulho do relógio na tua barriga.
Os teus objetivos, as tuas listas de propósitos, a bucket list do caraças. Pensas em quem partiu, parece que desde que somos adultos as pessoas partem mais, não é? E pensas naqueles que não chegaram aos dias que tu contas. A minha bucket list do caraças.
Viver como se não houvesse amanhã, ou planear para um futuro risonho? Aproveitar cada vez que enches os pulmões e expirar liberdade? Suspirar, stick to the plan para que possas chegar lá, onde querias, onde sempre ambicionaste. Onde é que era mesmo?
Mais um ano de planos suspensos ou desta é que é? Deixar de viver para os outros ou pensar mais nos outros? Fazer o bem. Mas tens mesmo de escrever isso numa lista?
Que se lixem os planos, deixo só o ponto um que é conhecer-me melhor e continuar neste caminho de descoberta. Mas minha ou do mundo?
Aumenta o barulho do relógio na tua barriga.