Do outro lado do muro sinto as tuas chaves que rodam na fechadura.
Sinto o bater da porta com pressa de manhã e sinto-o derrotado ao fim do dia.
Sinto também os teus passos na escada.
Sei que são o silêncio naqueles dias em que só querias desaparecer.
Os barulhos das nossas casas fundem-se como o mar e o Tejo.
Afogamo-nos nas ondas desta solidão.
Durante o dia o vazio aumenta, sinto a espiral do remoinho que cresce.
Olho para o meio e tenho vontade de mergulhar.
Abro os olhos na areia, sinto a rebentação ao longe e o sal que sara as feridas.
Rodo as chaves na fechadura, bato a porta com pressa, desço as escadas em passos saltitantes. Sem silêncio e carregados de sonhos.