Sabes aquele primeiro dia depois do regresso?
Sim, digo regresso e não chegada porque o teu destino é também o teu ponto de partida.
No dia a seguir é como uma ressaca com demasiadas misturas. O teu cérebro em curto circuito. Os reflexos linguísticos mais lentos. A tua língua enrola-se sem saber quais são os “erres”.
E acordar noutra cama? Por uns segundos tens a certeza de estar no teu quarto de infância. Mas quando abres os olhos semi-cerrados dás um salto com o esticão das pernas que crescem. Só queres tomar o pequeno-almoço e perceber onde é que aterraste. Mas os sons nunca são aqueles de que estavas à espera.
Meio emigra com o coração em dois sítios. Meio por acaso. Meio à aventura. Meio sem planos. As dores da distância não são como as dos outros antes de nós, são de corações confusos e mentes determinadas. De navegadores de low costs, de quilos de bagagem contada, de vidas de tetris.
Tomas um duche num chuveiro que não reconheces. Lavas os dentes em frente a um reflexo que não é o da tua memória. Adormeces para um mundo e abres portas a outro.