Fechei as janelas, corri as persianas e apaguei a luz. Tudo na esperança de não te ver. Semicerrei os olhos só para ter a certeza que funcionava, mas não. Continuavas a cruzar o teu olhar com o meu. E eu, perdido, continuava a sorrir-te como se não estivesse mais ninguém na sala, mais ninguém no mundo, mais ninguém no universo inteiro.
Depois decidi fechar os olhos quando passavas. Decidi que ia ser forte, contar até 5 enquanto alisava a barba. Longe da vista, longe do coração.
Inspiro profundamente 1… 2… 3… o teu perfume que paira no ar 4… quando chegas e passas no corredor… 5… sinto um aperto no coração, um murro no estômago e os teus olhos de desafio que fazem ruir o meu mundo.
Então decidi partir. Fazer as malas e fugir. No aeroporto todos os passos eram iguais aos teus. Quando olhava para o céu limpo de nuvens enchia-o de ti. Quando pensava na minha meta pensava: e se fosse contigo? Fechei os olhos com força, cerrei os dentes e expulsei-te aos gritos da minha mente. Longe da vista, longe do coração.
Caminhei sozinho por ruas desconhecidas, perdi-me em olhares que em nada – nada – se assemelhavam ao teu. Segui sorrisos que nem por sombras eram como o teu. Procurei emoções em todos os cantos onde não estavas, em todas as aventuras em que não participavas, em gargalhas que não poderiam nunca ser as tuas.
Finalmente. Longe da vista, longe do coração.
Exausto, caem-me as pálpebras na expectativa um sono sem sonhos. De uma noite profunda. De um descanso sem ti.
Fecho as janelas, corro as persianas e apago a luz. Tudo para não te ver. Cruzas o teu olhar com o meu e eu, feliz, sorrio-te como se não houvesse mais ninguém entre nós, mais ninguém no mundo, mais ninguém no universo inteiro.
Marta Romão 