Cada hora em que não te escrevo é uma vitória. A cada meu piscar de olhos e uma nova hora no relógio suspiro de alívio por não te ter escrito. A cada hora eterna que se divide em conjuntos de 15 minutos quando estou ocupada e de 5 em 5 quando o maldito ecrã do telemóvel fica especado a olhar para mim.
Ao suceder de horas que compõem estes dias nasce uma nova batalha na guerra comigo mesma. Blindo o meu coração, corro as persianas do meu cérebro, deixo-os desorientados num espaço onde não se vêem, não se tocam, não se ouvem.
Deitada no sofá entre os minutos infinitos do dia não sei se ponha o telemóvel debaixo de uma almofada, se me afunde nos lençóis ou fuja porta fora. Olho para o meu gato que me ignora, pondero se confessar os meus males, mas a sua indiferença lembra-me da minha estúpida condição humana.
Saber-te à distância de uma frase conforta-me tanto. Mesmo que não a possa escrever. Sei que mesmo longe estás do outro lado da linha, quem sabe se preso entre minutos infinitos e batalhas de hora em hora.
O fuso horário é o meu aliado, sei que quando te penso tu não estás e que me esquivo quando pensas em mim. As ondas do mar destroem a nossa sintonia, alçam uma barreira entre nós e devolvem-nos prisioneiros à margem.
Desde pequena que olhava o Atlântico com os olhos semicerrados a tentar ver a costa, com uma sensação de saudade do futuro, de nostalgia de ti.
“La saudade è parola portoghese di impervia traduzione. (…) È qualcosa di straziante, ma può anche intenerire, e non si rivolge esclusivamente al passato, ma anche al futuro, perché esprime un desiderio che vorreste ci realizzasse.”
Antonio Tabucchi in Viaggi e altri viaggi