Os últimos raios de sol quentes lembram os dias de verão que julgavas infinitos.
Como quando eras pequeno e fixavas os teus dedos dos pés na ponta da prancha. Diziam-te que tinhas de saltar mas tu não conseguias. Milímetro a milímetro, esticavas os dedos para te convenceres a avançar. As pessoas desapareciam à tua volta e os gritos confundiam-se com o chapinhar dos outros miúdos que se atiravam nos voos mais improváveis.
Os dias deste verão foram assim para ti. Os teus pequenos passos davam-te a sensação de estar a avançar. De estar quase, quase, quase. O pôr-do-sol que demorava fazia-te sentir invencível, supersónico na eternidade.
Achavas que lhe dizias tudo, que revelavas os teus sentimentos mais complicados de forma cristalina. Estendido na relva sabias que estavas finalmente a seguir o teu coração, a saltar da prancha de braços abertos.
Mas se tivesses olhado para baixo, terias visto os teus dedos que se esticavam desesperadamente na tua imobilidade. Os olhos dela, profundos, que ansiavam pelo teu salto sem medo. Se tivesses olhado para baixo, terias visto as tuas palavras superficiais, os teus sorrisos medidos, o teu bloqueio no espaço e no tempo.
O barulho de fundo ao teu redor começou a tornar-se mais claro, os rostos mais nítidos e a tua solidão mais evidente. As bancadas vazias, as toalhas esquecidas que ficaram para trás, as bóias que flutuam sem ritmo. E ela, de costas e ao longe que se afasta com a cabeça caída mas com os passos firmes.