Depois de horas de mar sem costa, o Atlântico revela os contornos de duas ilhas terra que se erguem despidas. Ao aproximar-se, o mar clareia quente e reflete a areia dourada de um recanto abençoado.
São Pedro, praia e aldeia que nos acolhem em São Vicente com um sorriso de juras vãs. Enchem o coração com o bater de um amor à primeira vista que desfoca os contornos áridos da vida real.
Em tempos modernos é este o porto de saudades. Nas asas que rasam o oceano partem as de sempre: a necessidade, a aventura e a paixão.

Os olhos de sal e as bocas de areia seguem o seu movimento com o coração apertado até às próximas festas ou até a uma próxima maré errante.
Os horizontes de quem voa expandem-se com a linha do mar, os de quem fica recolhem-se ao abrigo do vento na baía.
É aqui neste areal que percebes que o símbolo do infinito não é senão este mundo redondo com as voltas trocadas. Com os nossos caminhos torcidos e sofridos para depois voltarmos ao mesmo ponto. Uma, outra e outra vez.
O chamamento da terra, por um lado, e do mar, pelo outro, soam como uma discussão na tua cabeça. O vento incessante aumenta a chama dessa indecisão, pões as mãos nos ouvidos mas o volume cá dentro aumenta.
As ondas do mar de Inverno sintonizam-se com a tua respiração. O seu embalo é uma carícia na alma. Ergues os olhos para um céu límpido com nuvens que retiram do teu pensamento. Segues em frente, com a terra no peito e o mar nos sonhos.