Os prédios parecem-me todos iguais nesta periferia de betão. Talvez a Ana tenha razão, começar a andar com um mapa seria de bom uso, porque a minha memória de taxista lisboeta de nada me serve aqui nas ruas da Reboleira. Um sítio de que, até hoje, só tinha referências vagas e que me lembra histórias… Continue reading Um vida impune
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Afetos Revisitados
Faz hoje um ano que parti para uma das viagens da minha vida. À janela do avião, vejo o meu sonho ganhar forma depois de horas de mar sem fim. Um pedaço de terra vulcânica dá as boas vindas a quem chega com o seu areal mais dourado: a praia de São Pedro. Uma jura… Continue reading Afetos Revisitados
Nha sonho, nôs segredo
Em tempos de reclusão não há nada como aproveitar para olhar para dentro do nosso mundo e sonhar com aquele que nos aguarda lá fora. O ritmo frenético que nos empurrava de uma atividade para outra, muitas vezes contrariados, de repente parou. Como num jogo do macaquinho do chinês, apanhou os audazes desprevenidos e bloqueou… Continue reading Nha sonho, nôs segredo
Amor em tempos de contágio
Nesta carruagem de metro solitária esqueço que horas são. Não consigo ver a luz e não sinto o ritmo dos outros, ausentes atrás dos seus muros. Caminho por uma cidade vazia que me confunde como uma manhã de ressaca, estremunhada e demasiado cedo. Olho para os planos que tinha e que voam com o resto… Continue reading Amor em tempos de contágio
Juras de São Pedro
Depois de horas de mar sem costa, o Atlântico revela os contornos de duas ilhas terra que se erguem despidas. Ao aproximar-se, o mar clareia quente e reflete a areia dourada de um recanto abençoado. São Pedro, praia e aldeia que nos acolhem em São Vicente com um sorriso de juras vãs. Enchem o coração… Continue reading Juras de São Pedro
No crepúsculo dos sonhos
Caminhava nas ruas vazias do fim da noite e prenúncio de um novo dia. Através de uma janela ouve o trinado cansado de uma guitarra que lhe lembra o seu fado. Dentro da porta um último dedilhar rouco, uma garganta seca de fumo, uma voz pastosa a pedir o último grogue. Naquela hora mágica em… Continue reading No crepúsculo dos sonhos
Ponto Seguro
No teatro, ensinaram-me a fixar o olhar num ponto atrás da plateia, para dar a ideia que olho para todos ao mesmo tempo. Concentrada, altiva e presente. No pilates disseram-me que, para me poder equilibrar, devia escolher um ponto para fixar o meu olhar. Estável, segura e harmoniosa. Na vida, disseram-me para ter objetivos definidos… Continue reading Ponto Seguro
Impressões na areia
O tempo goteja sedento de outro, nesta terra árida, vulcânica e quente que olha para os céus com lábios gretados. O tempo, com a sua ironia, passa como água numa torneira defeituosa. O vento é aquele que trouxeram as caravelas, com cheiro a maresia e um silêncio ensurdecedor. Se não fosse pelo movimento que provoca… Continue reading Impressões na areia
Entardecer antes da hora
Os últimos raios de sol quentes lembram os dias de verão que julgavas infinitos. Como quando eras pequeno e fixavas os teus dedos dos pés na ponta da prancha. Diziam-te que tinhas de saltar mas tu não conseguias. Milímetro a milímetro, esticavas os dedos para te convenceres a avançar. As pessoas desapareciam à tua volta… Continue reading Entardecer antes da hora
No sítio certo à hora errada
Encontraram-se no sítio errado à hora errada. Cruzaram-se sem se verem, falaram sem se aperceberem, conheceram-se sem notar. Corriam paralelos e em sentidos opostos, no sítio errado à hora errada. Eu via-os todos os dias, sem se olharem, sem se escutarem, com o olhar no finito que era mais um dia, mais uma semana e… Continue reading No sítio certo à hora errada